O mundo do futebol parou naquela noite de 19 de novembro de 1969. Vasco e Santos disputavam uma partida pelo antigo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão.
O placar apontava1x1. Pelé é lançado por Clodoaldo e, com a marcação de dois jogadores vascaínos, vai ao chão dentro da área. O árbitro marca o pênalti. Duvidoso.
Repórteres do mundo inteiro estavam ali para registrar mais esse possível feito do Rei. Até a torcida do Vasco comemorou a marcação. O estádio inteiro gritava: “Pelé, Pelé, Pelé”.
A história do futebol teria mais um capítulo contado no estádio do Maracanã.
Não deu outra. “Ele”, como se referia Walter Abrahão, narrador esportivo, a Pelé, cobrou a penalidade firme e rasteiro no canto esquerdo do goleiro Andrada, que quase estraga a festa defendendo o indefensável.
Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, atingia mais um recorde dentro da sua fantástica carreira: 1000 gols marcados.
Um gol comentado no mundo inteiro, talvez até mais do que a própria descida do homem à Lua em 21 de julho daquele mesmo ano. O futebol sorria mais uma vez.
E você, o que teria a falar sobre os 1000 gols do Pelé?
(Imagem: Blog Odir Cunha)
A história do futebol brasileiro tem uma falha que, felizmente, muitos estão tentando reparar.
Para a CBF – Confederação Brasileira de Futebol , o Campeonato Brasileiro começou no ano de 1971, ou seja, antes desta data não haveria jogadores considerados campeões brasileiros, embora a antiga CBD – Confederação Brasileira de Desportos, tenha organizado torneios nacionais e oficiais durante toda a década de 60.
E aí, aparece a lamentável falha histórica.
Como podemos contar a história do futebol brasileiro sem considerar que jogadores como Pelé, Pepe, Dirceu Lopes, Tostão, Djalma Dias, Tupãzinho, Garrincha e Jairzinho, embora campeões da Taça Brasil e/ou do Torneio Robertão, não foram campeões brasileiros?
No texto abaixo, gentilmente cedido ao PELEJAS, Odir Cunha, historiador do nosso futebol e especialista em Santos Futebol Clube, escreve justamente sobre isso, confira:
“Quer dizer que o Pelé nunca foi campeão brasileiro?” (Blatter, ventriloquando, para Teixeira)
O telefone toca na sede da CBF. Joseph Blatter, presidente da Fifa, pede para falar com Ricardo Teixeira.
- Olá presidente, o que manda?
- Hello Ricardo. Quero saber como anda esse processo de unificação dos títulos brasileiros. Tem muita gente ligando e enviando e-mails pra nós sobre esse assunto. Você poderia me explicar, por favor?
- É que alguns clubes querem que os títulos brasileiros sejam unificados a partir de 1959, presidente.
- Por que a partir de 1959, Ricardo?
- Porque é o ano da primeira Taça Brasil, que definiu o representante brasileiro para a Copa Libertadores da América de 1960. Querem que a CBF ratifique como campeões brasileiros os vencedores da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, período de 1959 a 1970.
- I know, I know… A Libertadores que se chamava Copa dos Campeões da América, pois só reunia times campeões de capa país, right? I know. E os vencedores da Taça Brasil representavam o país na Libertadores, Ricardo?
- Sim presidente, representava.
- Bem, então eram os campeões de cada ano, pois na época a Libertadores só aceitava um representante de cada país, right?
- Mas é isso que se está analisando, presidente…
- A Taça Brasil era uma competição oficial, Ricardo?
- Sim, presidente, mas era da CBD.
- Eu sei, Ricardo. E a CBD era presidida pelo grande João Havelange, seu ex-sogro. Você já deve ter falado com ele sobre isso, não?
- Ãhãhãhãh…
- E o que o Havelange fala sobre essas competições, Ricardo? Ele não diz que eram oficiais e definiam o campeão brasileiro?
- Sim, presidente, mas…
- E a sua CBF não foi criada a partir da CBD, Ricardo?
- Sim, presidente…
- E a CBF, que foi criada só em 1979, não colocou no seu currículo todos os títulos conquistados pela Seleção Brasileira nos tempos da CBD, e por isso você se diz presidente da entidade que tem a única seleção pentacampeã do mundo, Ricardo?
- Sim, presidente…
- E se você incorporou ao currículo da CBF os títulos da Seleção Brasileira dos tempos da CBD, por que não homologou essa Taça Brasil e esse Torneio Roberto Gomes Pedrosa, Ricardo?
- Sinto que há alguma oposição de outros clubes, presidente.
- Que clubes são esses?
- Clubes que não foram campeões nem da Taça Brasil e nem do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, presidente.
- Oh my God. No seu país clube perdedor pode anular o campeonato, Ricardo? Não acha que assim o futebol seria uma bagunça maior do que já é?
- É que eles alegam que… que…
- O que eles alegam, Ricardo?
- Alegam que, por exemplo, alguns campeões da Taça Brasil só jogaram quatro vezes.
- É esse o motivo maior para se anular a competição, Ricardo?
- Errr… é, acho que é, presidente…
- Então você quer dizer que o meu Mundial da Fifa deve ser anulado, só porque o campeão só faz dois jogos, Ricardo?
- Bem… não quis dizer isso, presidente…
- E os times que jogavam nessa Taça Brasil e nesse Torneio Roberto Gomes Pedrosa, eram expressivos, tinham algum jogador da Seleção Brasileira, Ricardo?
- Todos…
- Como assim, todos, Ricardo?
- Todos, titulares e reservas da Seleção Brasileira jogavam nesses times, presidente…
- Diga o nome de alguns jogadores, para ver se me lembro…
- Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson, Clodoaldo, Zito, Mauro Ramos de Oliveira, Garrincha, Nilton Santos, Vavá, Gylmar dos Santos Neves, Didi, Tostão, Rivelino, Gérson, Ademir da Guia, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Paulo César Caju…
- Stop, stop, stop Ricardo!!! Quer dizer que Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson, Carlos Alberto, Jairzinho, Zito, Clodoaldo e todos esses jogadores que fizeram do futebol do seu país conhecido e respeitado no mundo inteiro, jogaram essas competições oficiais e você ainda não as homologou, Ricardo. Por quê?
- Nosso departamento técnico está estudando, presidente…
- Seu departamento técnico está estudando competições realizadas há 50 anos e que reuniram as melhores gerações de jogadores que o seu país já teve, Ricardo?
- Ãhãhãhãh…
- Ricardo, daqui a quatro anos teremos uma Copa do Mundo aí. O mundo olha o Brasil como o berço do futebol arte, da beleza e da magia do esporte. E olha assim não por você, nem por nenhum dirigente, mas por causa desses jogadores que foram campeões e estão sendo ignorados, desprezados pela sua CBF.
- ……………….
- Sabe em que ano a Itália teve o seu primeiro campeão?
- ??????????
- Em 1896, Ricardo, há 114 anos. E para ser campeão, a Udine fez só dois jogos e ambos no mesmo dia. Mas não importa, era o que podia ser feito. E está nos anais do futebol italiano, com muito orgulho. Vocês têm um futebol tão rico, por que desprezar essa história?
- ………………
- Vamos tentar fazer uma grande Copa do Mundo aí. Um evento pra cima, alegre, que reverencie o futebol arte. Para isso, Ricardo, preciso ter ao nosso lado os maiores campeões que o seu país já teve. Entendeu, Ricardo? Do you understand my friend?
- Sim, sim, presidente…
E o telefone de Zurique foi desligado.
E você, o que acha de Pelé e Tostão, entre outros craques, não serem considerados oficialmente como campeões brasileiros?
Na reta final do Brasileirão, o confronto entre Corinthians x Cruzeiro tem muita história no mundo da bola. Ao cruzar os dados das fichas técnicas dos jogos, o Corinthians leva vantagem em vitórias e gols marcados. Mas quem sabe até sábado as coisas não mudam? O que marcará a ficha técnica desse jogo aqui no PELEJAS?
Vale lembrar que o futebol sempre será uma eterna caixinha de surpresas! Boa essa frase, não?
Para curiosidade de muitos, veja o que encontramos nos arquivos do PELEJAS:
Jogos realizados no estádio do Pacaembu entre Corinthians e Cruzeiro:
Vitórias do Corinthians: 12
Vitórias do Cruzeiro: 7
Empates: 6
Gols do Corinthians: 41
Gols do Cruzeiro: 31
O primeiro jogo no Pacaembu aconteceu em 1 de novembro de 1940. O Corinthians venceu o Cruzeiro por 6x3 num jogo amistoso. O último jogo no Pacaembu aconteceu em 25 de outubro de 2009. O Cruzeiro venceu por 1x0 com, gol de Gilberto.
Jogos realizados no Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro:
Vitórias do Corinthians: 7
Vitórias do Cruzeiro: 6
Empates: 5
Gols do Corinthians: 20
Gols do Cruzeiro: 18
Todos os jogos realizados entre Corinthians e Cruzeiro:
Vitórias do Corinthians: 26
Vitórias do Cruzeiro: 21
Empates: 17
Gols do Corinthians: 86
Gols do Cruzeiro: 78
Agora o PELEJAS pergunta e você responde: Qual foi a maior goleada entre essas duas equipes, em jogos realizados no Pacaembu?
O jovem craque do Santos, Neymar, tem sido alvo de críticas por parte de muita gente boa, pelos pênaltis que ele tem perdido ultimamente.
O maior jogador de futebol que o mundo conheceu, Pelé, também perdeu alguns pênaltis. Digo alguns porque relativamente aos seus mais de 1000 gols marcados e, levando-se em conta toda a carreira do Rei, esses pênaltis perdidos são insignificantes se não tivessem sido perdidos por Ele (com E maiúsculo, claro).
Só pode perder pênalti quem tem a coragem de cobrar pênalti, não é mesmo?
Neymar que o diga. E que fique claro, muito longe de mim, ousar comparar Neymar com Ele.
A título de curiosidade, com a ajuda dos arquivos do PELEJAS e do blog do Paulo Vinícius Coelho da ESPN, disponibilizo logo abaixo, a relação dos pênaltis perdidos por Pelé. Isso também faz parte da história do futebol.
Com esta lista, fica desfeita a dúvida e podemos afirmar surpresos: Pelé era humano!
30/1/1958 – Santos 2 x 5 Atlético-MG (Arizona)
7/12/1958 – Santos 6 x 1 Corinthians (Cabeção defendeu)
30/9/1962 – Santos 3 x 1 Comercial (Aníbal)
7/5/1964 – Santos 2 x 1 Racing (Pelé cobrou com paradinha, juiz anulou – deu reversão)
30/9/1964 – Corinthians 1 x 1 Santos (Heitor defendeu)
15/11/1964 – Ferroviária 0 x 0 Santos (Rosan viu o chute para fora)
18/11/1964 – Guarani 5 x 1 Santos (Sídnei defendeu)
25/3/1965 – Santos 5 x 4 Peñarol (Maidana defendeu)
14/7/1965 – Santos 6 x 2 Noroeste (Pelé para fora)
15/8/1965 – Santos 3 x 1 Prudentina (Pelé para fora)
7/10/1965 – Santos 4 x 2 São Bento (Pelé para fora)
26/11/1966 – Santos 2 x 1 Guarani (Na trave)
26/3/1967 – Santos 1 x 2 Vasco (Para fora)
1/4/1967 – Santos 1 x 1 São Paulo (Para fora)
5/3/1969 – Guarani 1 x 0 Santos (Pelé na trave)
12/5/1971 – Santos 1 x 0 São Bento (Lourenço defendeu)
3/10/1971 – Santos 1 x 0 Cruzeiro (Hélio defendeu)
3/3/1972 – Santos 2 x 0 Roma (Ginulfi defendeu)
29/4/1972 – Santos 1 x 0 Napoli (Pelé perdeu dois – Um com paradinha que o juiz anulou, o outro Pelé acertou na trave)
E você, é bom batedor de pênaltis?